Outros tempos

"O maior defeito dos livros novos é impedir a leitura dos antigos." (Joseph Joubert)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Os portugueses na India



OS PORTUGUESES NA INDIA

Sanceau, Elaine, 1896-1978,  adapt.; Alves, Armando, 1935-, il.

Porto : Civilização, imp. 1962
Coleção Quer saber...?













Elaine Sanceau

Inglesa, nascida em Croydon, filha de pais de origem francesa,  foi educada na Suíça. Em 1930, passou a residir em Portugal. Publicou textos de História de Portugal em inglês demonstrando que os portugueses tinham sido pioneiros na demanda de novos mundos, nomeadamente na Índia.
Elaine dedicou a sua vida ao estudo dos descobrimentos portuguesas, tendo deixado estudos, entre muitos outros, sobre o infante D. Henrique (1942); D. João de Castro (1945) e "A Viagem de Vasco da Gama" (1958): "Os Portugueses em África" (1961); "Os Portugueses na Índia" (1963); "Os Portugueses no Brasil (1963); "Os Portugueses em Marrocos" (1964); "O Reinado do Venturoso".
Em 1979, postumamente, foi editado o seu estudo "Mulheres Portuguesas no Ultramar".
O Estado português demonstrou-lhe o seu apreço concedendo-lhe o Prémio Camões, em 1944, atribuindo-lhe as condecorações de grande oficial da Ordem de Santiago da Espada, da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1961 e a medalha de Ouro da cidade do Porto (onde viveu) em 1968.
Era membro do Instituto de Coimbra, do Centro de Estudos Históricos e Ultramarinos e sócia correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.
Maria Luísa Paiva Boléo

http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/sanceau.html

 

Armando Alves
Armando Alves nasceu em Estremoz em 1935. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Aqui concluiu o curso de Pintura com vinte valores, o que originou, em 1968, a formação do grupo “Os Quatro Vintes” com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Jorge Pinheiro, com o qual se apresenta em exposições no final da década de 60.
Com projecção internacional, o artista está representado nas principais colecções nacionais e estrangeiras.
Entre outras distinções foi agraciado em 2006 pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito e pelo Município de Estremoz com a Medalha de Mérito Municipal – Ouro. 



Autobiografia publicada no Jornal de Letras, em 20 de Maio de 2009.
Nasci em 1935, em Estremoz, mas só dei conta disso alguns anos depois. Tive uma infância feliz na companhia de familiares e amigos que comecei a descobrir na escola primária, onde aprendi a ler e a escrever ao som do hino da mocidade portuguesa e do mau humor dos professores de então. Mas, mais importante do que tudo isso, foi começar a conhecer a vida nas brincadeiras e nos jogos que, depois das aulas, eu e os meus amigos, prolongávamos até deixar que a noite nos acalmasse um pouco.
Mais tarde, na Escola Industrial, onde conheci novos professores e outros alunos, comecei a interessar-me pelo desenho, pela modelação e pelos trabalhos manuais.
Aí, tive a sorte de ter dois professores que exerceram uma influência determinante na minha vida — o Doutor Irondino Teixeira de Aguilar e Sebastião da Gama. Ambos convenceram os meus pais da importância de me mandarem para Lisboa para estudar numa escola que desse acesso às Belas-Artes.
A Escola de Artes Decorativas António Arroio foi a escola que me recebeu. Então, a idade e os conhecimentos já eram outros e aí pude encontrar um mundo diferente e contactar com novos professores e novos amigos.
Com uns e outros fui fazendo caminho. É justo que preste aqui a minha Homenagem a professores que ajudaram à formação do meu carácter e à abertura de conhecimentos no mundo artístico: estou a lembrar-me do Mestre Lino António, do Louro de Almeida, do Mestre Anjos Teixeira, do Mestre Henrique Tavares e do Mestre Abel Manta.
Acabado o curso de preparação às Belas-Artes ainda fiz a admissão à escola de Lisboa, mas logo de seguida matriculei-me no Porto. Escolhi o Porto porque queria conhecer outras paragens depois da estadia em Lisboa, mas também pela diferença que existia nos domínios da qualidade de ensino e direcção de ambas as escolas, facto que foi determinante. Estávamos no início de 50, numa altura em que a Escola Superior de Belas-Artes do Porto era uma escola muito mais avançada do que a de Lisboa, manifestava maior abertura de ensino e outras possibilidades de desenvolvimento artístico, com as Exposições Magnas e as Extra-Escolares, em parte devido à direcção que lhe imprimira o arquitecto Carlos Ramos e um núcleo de professores competentes e muito prestigiados.
Uma vez mais, aqui, pude continuar a desbravar caminho com mestres como o pintor Heitor Cramez, o escultor Barata Feyo, Mestre Dordio Gomes, Mestre Júlio Resende, Mestre Augusto Gomes e outros mais novos mas igualmente excelentes professores, como Lagoa Henriques e Pais da Silva.
Reparo agora, a esta distância, no papel que, no seu conjunto, estes professores de diferentes origens, desempenharam na minha vida e no trabalho que viria a realizar.
Por esta altura comecei realmente a descobrir a pintura. No princípio, ainda nos primeiros anos de aluno das Belas-Artes, fiz alguns trabalhos figurativos, mas não muitos. Ainda assisti às últimas expressões do neo-realismo, mas, sendo a minha geração imediatamente posterior, depois de algumas incursões, poucas, nessa Escola, comecei a centrar toda a atenção na paisagem do Alentejo. Sou de lá e tenho uma paixão imensa pelo Alentejo. Conheço a paisagem e os alentejanos, os diferentes momentos do dia, as mudanças das estações do ano, o barulho dos pássaros no restolho do verão, o nascimento das plantas, dos animais, a terra. Tudo isto está interiorizado em mim numa enorme vivência que tenho procurado transmitir através da pintura que ainda hoje continuo a fazer.
Em 1981 fiz uma exposição sobre o tema de “O Arco-Íris”, no Jornal de Notícias. Mais tarde, em 67, teve inicio a fase dos objectos em madeira pintada, que é outra vertente da minha actividade que tem a ver com a escultura.
Digamos que são objectos/esculturas onde há um certo depuramento da forma, na criação, na sensualidade que transmitem e na cor, sempre monocromática a sublinhar aquele depuramento. Depois voltei à pintura, à pintura com tela, tintas e pincéis, matérias e vernizes, onde continuo a pesquisar a paisagem do Alentejo tão longe quanto me apetecer.
Mas o Porto significou ainda o conhecimento de novos amigos, a descoberta de uma cidade onde acabaria por me radicar. Significou ainda a experiência da arte que, nos ateliers de cada um se punha em prática, e que nos cafés se debatia, sobretudo no Majestic, à noite. Este era um dos espaços de frequência obrigatória a par de outros de que recordo os espectáculos do Teatro Experimental do Porto, em que cheguei a colaborar, a Livraria e a galeria Divulgação, o Cine Clube do Porto e os Colóquios da Casa dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Aí nos encontrávamos para trocar ideias e massacrar os ouvidos dos pides que nos escutavam tirando apontamentos…
Na vida cultural e artística da cidade o aparecimento da Árvore foi um acontecimento de importância capital para o Porto. Aí trabalhámos muito e realizámos encontros que levaram a grandes discussões com que, convictamente, tentávamos mudar o mundo. Não sei se o mundo terá mudado, mas muita coisa se transformou com a Árvore que, no presente, continua a lutar para sobreviver com dignidade.
Dos muitos amigos que fui fazendo no Porto, houve três que se juntaram a mim, nos finais de 60, para constituir um grupo a que chamámos os “Quatro Vintes”. Nasceu e morreu como todo o ser vivente e durou apenas quarto anos. Mas mexeu com muitas coisas e abriu caminho a outros grupos que, connosco, ajudaram a dar corpo e a compreender este mundo da Arte e dos artistas.
Acabado o curso fui convidado pelo Mestre Carlos Ramos a integrar o corpo docente da Escola de Belas-Artes. Aceitei entusiasmado, pois sendo crítico de uma parte do ensino naquela escola — um pouco ultrapassado e desajustado — tinha agora a possibilidade de contribuir para a mudança e de prolongar o nosso trabalho com os alunos. Dar aulas era perceber as diferenças entre todos esses alunos, identificar a sua riqueza interior e, no fundo, cumprir a missão de descobrir e trabalhar essa riqueza.
A designação que as cadeiras na escola tinham vinha do século anterior, tal como a prática que lhes correspondia. O desenho de estátua, por exemplo, era uma cadeira que, no meu tempo de aluno, se resumia ao desenho a carvão, com mais ou menos mestria, de meia dúzia de estátuas e cabeças da Grécia Antiga copiadas ao longo de um ano lectivo. Quando comecei a leccionar essa cadeira dei-lhe um novo rumo centrado num desenho mais abrangente. A ideia era desenhar tudo, desde cadeiras, cubos e outras formas geométricas, até ao desenho de rua. Os motivos da cidade eram o pretexto: no jardim da escola, nas ruas do Porto, Fontaínhas, Guindais, o rio. Desenhar tudo a lápis, a tinta e pincel nos suportes mais variados. Foi muito gratificante ver a adesão dos alunos a esta proposta e o resultado que alguns, necessariamente os melhores, conseguiram num ano lectivo – à volta de 700 trabalhos, cada um.
Foram alguns anos agradáveis, estes que passei na escola, porém chegou uma altura em que tive de decidir entre continuar a leccionar ou dedicar-me a trabalhar em artes-gráficas. Por uma questão de sobrevivência, na altura tive necessidade de escolher. Aceitei então o desafio do José da Cruz Santos para integrar a equipa da Editorial Inova, criada em 1968, e de então para cá tenho dividido a minha actividade artística entre as artes-gráficas e a pintura. O Porto era, nesses anos, um verdadeiro deserto no que respeita à actividade gráfica, não havendo praticamente ninguém a trabalhar a tempo inteiro nesta área e a articular a solução prática que a edição requer, com a criatividade que a concepção das capas, da paginação e de colecções completas implicam. O desafio que aquele editor me colocava levaria à alteração deste panorama e aí residia o seu principal aliciante. Depois da Inova veio a colaboração com outras editoras.
Com a Inova pude conhecer muita gente, alguns com quem tive o gosto de trabalhar — o Óscar Lopes, o Vasco Graça Moura, o Zeferino Coelho, o Manuel Alberto Valente. Conheci também muitos autores, mas gostava de destacar o relacionamento de amizade, e profissional, que mantive com Eugénio de Andrade, pessoa de grande cultura, forte formação cívica e intelectual que muito me ajudou e com quem aprendi muito.
Tive o privilégio de ver Eugénio de Andrade assinar textos sobre o meu trabalho, facto que haveria de acontecer com outros grandes escritores. Ao longo de um percurso vasto de exposições individuais e colectivas, sempre senti maior afinidade relativamente àquilo que os escritores disseram sobre a minha pintura.
O 25 de Abril implicou a transformação da sociedade em que vivemos. Os dias que se sucederam à Revolução foram inesquecíveis. Fui chamado a intervir e colaborei em muitas situações, dando contributos na área do design gráfico em que cheguei a fazer cartazes pelo telefone, directamente com as gráficas. Participei em muitas acções de rua, nomeadamente na realização de grandes painéis murais que foram, em determinado momento, muito importantes no alertar das pessoas para as transformações necessárias que todos ansiosamente esperávamos.
Mas, passada a euforia, veio a realidade e a necessidade de voltar à terra e, de então para cá, temos assistido a uma série interminável de avanços e recuos, talvez inevitáveis para consolidar a democracia que todos desejamos. Entretanto vou vivendo com a minha família em Matosinhos e Estremoz com a preocupação de o fazer tranquilamente e de acordo com os valores em que acredito.
 


 

 

 


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