Outros tempos

"O maior defeito dos livros novos é impedir a leitura dos antigos." (Joseph Joubert)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Os portugueses na India



OS PORTUGUESES NA INDIA

Sanceau, Elaine, 1896-1978,  adapt.; Alves, Armando, 1935-, il.

Porto : Civilização, imp. 1962
Coleção Quer saber...?













Elaine Sanceau

Inglesa, nascida em Croydon, filha de pais de origem francesa,  foi educada na Suíça. Em 1930, passou a residir em Portugal. Publicou textos de História de Portugal em inglês demonstrando que os portugueses tinham sido pioneiros na demanda de novos mundos, nomeadamente na Índia.
Elaine dedicou a sua vida ao estudo dos descobrimentos portuguesas, tendo deixado estudos, entre muitos outros, sobre o infante D. Henrique (1942); D. João de Castro (1945) e "A Viagem de Vasco da Gama" (1958): "Os Portugueses em África" (1961); "Os Portugueses na Índia" (1963); "Os Portugueses no Brasil (1963); "Os Portugueses em Marrocos" (1964); "O Reinado do Venturoso".
Em 1979, postumamente, foi editado o seu estudo "Mulheres Portuguesas no Ultramar".
O Estado português demonstrou-lhe o seu apreço concedendo-lhe o Prémio Camões, em 1944, atribuindo-lhe as condecorações de grande oficial da Ordem de Santiago da Espada, da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1961 e a medalha de Ouro da cidade do Porto (onde viveu) em 1968.
Era membro do Instituto de Coimbra, do Centro de Estudos Históricos e Ultramarinos e sócia correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.
Maria Luísa Paiva Boléo

http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/sanceau.html

 

Armando Alves
Armando Alves nasceu em Estremoz em 1935. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Aqui concluiu o curso de Pintura com vinte valores, o que originou, em 1968, a formação do grupo “Os Quatro Vintes” com Ângelo de Sousa, José Rodrigues e Jorge Pinheiro, com o qual se apresenta em exposições no final da década de 60.
Com projecção internacional, o artista está representado nas principais colecções nacionais e estrangeiras.
Entre outras distinções foi agraciado em 2006 pelo Presidente da República com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito e pelo Município de Estremoz com a Medalha de Mérito Municipal – Ouro. 



Autobiografia publicada no Jornal de Letras, em 20 de Maio de 2009.
Nasci em 1935, em Estremoz, mas só dei conta disso alguns anos depois. Tive uma infância feliz na companhia de familiares e amigos que comecei a descobrir na escola primária, onde aprendi a ler e a escrever ao som do hino da mocidade portuguesa e do mau humor dos professores de então. Mas, mais importante do que tudo isso, foi começar a conhecer a vida nas brincadeiras e nos jogos que, depois das aulas, eu e os meus amigos, prolongávamos até deixar que a noite nos acalmasse um pouco.
Mais tarde, na Escola Industrial, onde conheci novos professores e outros alunos, comecei a interessar-me pelo desenho, pela modelação e pelos trabalhos manuais.
Aí, tive a sorte de ter dois professores que exerceram uma influência determinante na minha vida — o Doutor Irondino Teixeira de Aguilar e Sebastião da Gama. Ambos convenceram os meus pais da importância de me mandarem para Lisboa para estudar numa escola que desse acesso às Belas-Artes.
A Escola de Artes Decorativas António Arroio foi a escola que me recebeu. Então, a idade e os conhecimentos já eram outros e aí pude encontrar um mundo diferente e contactar com novos professores e novos amigos.
Com uns e outros fui fazendo caminho. É justo que preste aqui a minha Homenagem a professores que ajudaram à formação do meu carácter e à abertura de conhecimentos no mundo artístico: estou a lembrar-me do Mestre Lino António, do Louro de Almeida, do Mestre Anjos Teixeira, do Mestre Henrique Tavares e do Mestre Abel Manta.
Acabado o curso de preparação às Belas-Artes ainda fiz a admissão à escola de Lisboa, mas logo de seguida matriculei-me no Porto. Escolhi o Porto porque queria conhecer outras paragens depois da estadia em Lisboa, mas também pela diferença que existia nos domínios da qualidade de ensino e direcção de ambas as escolas, facto que foi determinante. Estávamos no início de 50, numa altura em que a Escola Superior de Belas-Artes do Porto era uma escola muito mais avançada do que a de Lisboa, manifestava maior abertura de ensino e outras possibilidades de desenvolvimento artístico, com as Exposições Magnas e as Extra-Escolares, em parte devido à direcção que lhe imprimira o arquitecto Carlos Ramos e um núcleo de professores competentes e muito prestigiados.
Uma vez mais, aqui, pude continuar a desbravar caminho com mestres como o pintor Heitor Cramez, o escultor Barata Feyo, Mestre Dordio Gomes, Mestre Júlio Resende, Mestre Augusto Gomes e outros mais novos mas igualmente excelentes professores, como Lagoa Henriques e Pais da Silva.
Reparo agora, a esta distância, no papel que, no seu conjunto, estes professores de diferentes origens, desempenharam na minha vida e no trabalho que viria a realizar.
Por esta altura comecei realmente a descobrir a pintura. No princípio, ainda nos primeiros anos de aluno das Belas-Artes, fiz alguns trabalhos figurativos, mas não muitos. Ainda assisti às últimas expressões do neo-realismo, mas, sendo a minha geração imediatamente posterior, depois de algumas incursões, poucas, nessa Escola, comecei a centrar toda a atenção na paisagem do Alentejo. Sou de lá e tenho uma paixão imensa pelo Alentejo. Conheço a paisagem e os alentejanos, os diferentes momentos do dia, as mudanças das estações do ano, o barulho dos pássaros no restolho do verão, o nascimento das plantas, dos animais, a terra. Tudo isto está interiorizado em mim numa enorme vivência que tenho procurado transmitir através da pintura que ainda hoje continuo a fazer.
Em 1981 fiz uma exposição sobre o tema de “O Arco-Íris”, no Jornal de Notícias. Mais tarde, em 67, teve inicio a fase dos objectos em madeira pintada, que é outra vertente da minha actividade que tem a ver com a escultura.
Digamos que são objectos/esculturas onde há um certo depuramento da forma, na criação, na sensualidade que transmitem e na cor, sempre monocromática a sublinhar aquele depuramento. Depois voltei à pintura, à pintura com tela, tintas e pincéis, matérias e vernizes, onde continuo a pesquisar a paisagem do Alentejo tão longe quanto me apetecer.
Mas o Porto significou ainda o conhecimento de novos amigos, a descoberta de uma cidade onde acabaria por me radicar. Significou ainda a experiência da arte que, nos ateliers de cada um se punha em prática, e que nos cafés se debatia, sobretudo no Majestic, à noite. Este era um dos espaços de frequência obrigatória a par de outros de que recordo os espectáculos do Teatro Experimental do Porto, em que cheguei a colaborar, a Livraria e a galeria Divulgação, o Cine Clube do Porto e os Colóquios da Casa dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Aí nos encontrávamos para trocar ideias e massacrar os ouvidos dos pides que nos escutavam tirando apontamentos…
Na vida cultural e artística da cidade o aparecimento da Árvore foi um acontecimento de importância capital para o Porto. Aí trabalhámos muito e realizámos encontros que levaram a grandes discussões com que, convictamente, tentávamos mudar o mundo. Não sei se o mundo terá mudado, mas muita coisa se transformou com a Árvore que, no presente, continua a lutar para sobreviver com dignidade.
Dos muitos amigos que fui fazendo no Porto, houve três que se juntaram a mim, nos finais de 60, para constituir um grupo a que chamámos os “Quatro Vintes”. Nasceu e morreu como todo o ser vivente e durou apenas quarto anos. Mas mexeu com muitas coisas e abriu caminho a outros grupos que, connosco, ajudaram a dar corpo e a compreender este mundo da Arte e dos artistas.
Acabado o curso fui convidado pelo Mestre Carlos Ramos a integrar o corpo docente da Escola de Belas-Artes. Aceitei entusiasmado, pois sendo crítico de uma parte do ensino naquela escola — um pouco ultrapassado e desajustado — tinha agora a possibilidade de contribuir para a mudança e de prolongar o nosso trabalho com os alunos. Dar aulas era perceber as diferenças entre todos esses alunos, identificar a sua riqueza interior e, no fundo, cumprir a missão de descobrir e trabalhar essa riqueza.
A designação que as cadeiras na escola tinham vinha do século anterior, tal como a prática que lhes correspondia. O desenho de estátua, por exemplo, era uma cadeira que, no meu tempo de aluno, se resumia ao desenho a carvão, com mais ou menos mestria, de meia dúzia de estátuas e cabeças da Grécia Antiga copiadas ao longo de um ano lectivo. Quando comecei a leccionar essa cadeira dei-lhe um novo rumo centrado num desenho mais abrangente. A ideia era desenhar tudo, desde cadeiras, cubos e outras formas geométricas, até ao desenho de rua. Os motivos da cidade eram o pretexto: no jardim da escola, nas ruas do Porto, Fontaínhas, Guindais, o rio. Desenhar tudo a lápis, a tinta e pincel nos suportes mais variados. Foi muito gratificante ver a adesão dos alunos a esta proposta e o resultado que alguns, necessariamente os melhores, conseguiram num ano lectivo – à volta de 700 trabalhos, cada um.
Foram alguns anos agradáveis, estes que passei na escola, porém chegou uma altura em que tive de decidir entre continuar a leccionar ou dedicar-me a trabalhar em artes-gráficas. Por uma questão de sobrevivência, na altura tive necessidade de escolher. Aceitei então o desafio do José da Cruz Santos para integrar a equipa da Editorial Inova, criada em 1968, e de então para cá tenho dividido a minha actividade artística entre as artes-gráficas e a pintura. O Porto era, nesses anos, um verdadeiro deserto no que respeita à actividade gráfica, não havendo praticamente ninguém a trabalhar a tempo inteiro nesta área e a articular a solução prática que a edição requer, com a criatividade que a concepção das capas, da paginação e de colecções completas implicam. O desafio que aquele editor me colocava levaria à alteração deste panorama e aí residia o seu principal aliciante. Depois da Inova veio a colaboração com outras editoras.
Com a Inova pude conhecer muita gente, alguns com quem tive o gosto de trabalhar — o Óscar Lopes, o Vasco Graça Moura, o Zeferino Coelho, o Manuel Alberto Valente. Conheci também muitos autores, mas gostava de destacar o relacionamento de amizade, e profissional, que mantive com Eugénio de Andrade, pessoa de grande cultura, forte formação cívica e intelectual que muito me ajudou e com quem aprendi muito.
Tive o privilégio de ver Eugénio de Andrade assinar textos sobre o meu trabalho, facto que haveria de acontecer com outros grandes escritores. Ao longo de um percurso vasto de exposições individuais e colectivas, sempre senti maior afinidade relativamente àquilo que os escritores disseram sobre a minha pintura.
O 25 de Abril implicou a transformação da sociedade em que vivemos. Os dias que se sucederam à Revolução foram inesquecíveis. Fui chamado a intervir e colaborei em muitas situações, dando contributos na área do design gráfico em que cheguei a fazer cartazes pelo telefone, directamente com as gráficas. Participei em muitas acções de rua, nomeadamente na realização de grandes painéis murais que foram, em determinado momento, muito importantes no alertar das pessoas para as transformações necessárias que todos ansiosamente esperávamos.
Mas, passada a euforia, veio a realidade e a necessidade de voltar à terra e, de então para cá, temos assistido a uma série interminável de avanços e recuos, talvez inevitáveis para consolidar a democracia que todos desejamos. Entretanto vou vivendo com a minha família em Matosinhos e Estremoz com a preocupação de o fazer tranquilamente e de acordo com os valores em que acredito.
 


 

 

 


sexta-feira, 3 de agosto de 2012


QUEM PROCURA SEMPRE ALCANÇA
M.Iline e E. Ségal

Ilustrador João da Câmara Leme

2ª edição
Portugália
1966
Colecção os Pequenos Pioneiros

JOÃO DA CÂMARA LEME

"João da Câmara Leme (Beira, Moçambique, 1930-Lisboa, 1984) ilustrou alguns dos mais emblemáticos livros para a infância dos anos 60. O apurado instinto do ilustrador permitia grafismos bastante variados, desde a textura lenhosa dos Contos para Crianças, de Jaime Cortesão até às cores planas sem linha da Nau Catrineta, de Alice Gomes. Mas o registo mais interessante talvez seja o dos números 10 e 11 da Colecção Os pequenos Pioneiros da editora Portugália: A Menina e o Elefante, de Alexandre Kuprine; e A Bela e o Monstro, de Leprince de Beaumont, ambos de 1968. Obras de uma extrema delicadeza a que o traço de Câmara Leme emprestava uma terna melancolia, num regresso à linha que seria tendência marcante da ilustração editorial da década seguinte.
As ilustrações são compósitos de figuras planificadas sem recurso a perspetiva e contam a história como uma peça de teatro levada ao palco, onde narração e cenografia são asseguradas por elementos gráficos avulsos mas igualmente expressivos. O contraponto da curiosa mise-en-scène está no desenho laborioso das figuras, onde formas e volumes são trabalhados em bandas de traços paralelos e sentidos opostos. A mesma alternância verifica-se no uso de três a quatro cores directas para além do preto. Este aparente formalismo revela uma espantosa originalidade e liberdade formal e não tem paralelo noutros autores contemporâneos. A apoteose está no famoso Figuras Figuronas, da mesma coleção, datado de 1969. Aos atributos enunciados junta-se agora um contraste cromático mais vincado com a redução a duas cores e uma prodigiosa geometrização das figuras. "
SILVA, Jorge. Almanach Silva. (Consult. 4-08-2012). Disponível em: http://almanaquesilva.wordpress.com/2011/10/09/linhas-cruzadas/
O SENHOR SABE TUDO
EM LISBOA


SANTOS, Isaura Correia 1914-1998
Livraria Figueirinhas
Porto (196?)

COSTA, Laura (ilustradora)










LAURA COSTA

"Laura Costa (Vitória, Porto, 1910-Porto, 1992), uma das mais prolíficas ilustradoras de livros para crianças e de costumes tradicionais portugueses da década de quarenta.

 

Laura não retrata a fealdade dos vilões das histórias infantis. A mais cruel megera e o mais horrendo gnomo parecem tios feiotes mas simpáticos, criaturas apuradas por um paradoxal arianismo louro e azul que casava bem com o grotesco onirismo das fábulas. Laura evita a representação das odiosas cenas de sangue, fixando geralmente as personagens em trânsito ou em poses narcisistas que dispensam cenário, em trajos sumptuosos que naturalmente beneficiam do seu virtuoso traço. Se a ilustração, em geral, permite maltratar esteticamente a figuração masculina, temos em Laura Costa a excepção. Garbosos príncipes, rudes lenhadores e bondosos reis partilham o mesmo traço adocicado, efeminados até. O pouco que sabemos de Laura está em contradição aparente com a sua delicodoce obra. Senhora de refinada cultura, sem confissão religiosa, foi a primeira aluna das Belas Artes do Porto a participar voluntariamente nas aulas de desenho do nu masculino, quando na altura eram facultativas para o sexo feminino. Amava sobrinhos e primos como filhos, presenteando-os no Natal ou em aniversários com bonecas integralmente criadas e vestidas por si, e viveu toda a vida com dificuldades económicas num modesto apartamento da Rua do Almada, no Porto.

Laura Costa tem afinidades gráficas com a ilustradora Raquel Roque Gameiro, pelo primado do desenho, de traço constante e linear, pela ausência de profundidade e modelação de volumes. Mas o minimalismo nos enquadramentos e na paleta fisionómica afastam-na da ousadia cinematográfica da obra de Raquel. Centenas de ilustrações recheiam várias coleções da Editorial Infantil Majora, baseadas em adaptações de contos populares, como a Varinha Mágica, compilada por Fernando de Castro Pires de Lima, e a Série Prata e a Colecção Princesinha, organizadas por Maria Vitória Garcia Ferreira. E há mais contos infantis na Colecção Pinóquio, de 1946, compilada por Henrique Marques Júnior para a Livraria Latina Editora. Apreciamos hoje com algum cinismo a subtil sensualidade daqueles olhos semicerrados e orgulhosamente incomunicáveis com o leitor. A sua candura esconde segredos e crimes inconfessáveis que a literatura para crianças contemporânea já não pode tolerar."

SILVA, Jorge. Almanach Silva. (Consult. 4-08-2012). Disponível em: http://almanaquesilva.wordpress.com/2012/03/11/doces-decapitacoes/

terça-feira, 11 de maio de 2010

Os meus amores

Os meus amores : contos e baladas / Trindade Coelho



AUTOR(ES): Coelho, Trindade, 1861-1908
EDIÇÃO: 13a ed


PUBLICAÇÃO: Lisboa : Portugália, 1959






Trindade Coelho

[Mogadouro, 1861 - Lisboa, 1908]
Formado em Direito na Universidade de Coimbra em 1885 (tempo esse cuja memória evoca no livro In Illo Tempore, 1902), e depois de breve período em que exerceu advocacia no Porto, decidiu-se pela magistratura, tendo sido nomeado procurador régio, sucessivamente para o Sabugal, Portalegre, Ovar e Lisboa. Revelando-se um magistrado íntegro e um homem de bem, conjugou o exercício da sua profissão com o cultivo das letras, que iniciou ainda estudante, tendo a sua passagem pelas diversas cidades em que viveu ficado assinalada pela fundação de uma série de jornais, desde A Porta Férrea e Panorama Contemporâneo, em Coimbra, à Revista Nova ou à Revista de Direito e Jurisprudência, em Lisboa.
Generoso, sonhador e entusiasta, com uma enorme capacidade de trabalho alternando com graves crises de esgotamento nervoso que o deixavam prostrado (foi na sequência de uma dessas crises que se suicidou), Trindade Coelho interessou-se pela pedagogia, pelo folclore e pelos estudos etnográficos, pela jurisprudência e pela política, para além da produção propriamente literária.
Nunca tendo sido tentado por obras de grande fôlego, é no domínio da crónica, da fábula, do conto, que se revelam os seus melhores dotes («Contos?... Foi afinal a única coisa que tentei... a única coisa que eu fiz...»). As suas histórias simples e comoventes (diz ele que o conto se deve alimentar quase exclusivamente de emoção) têm por cenário o seu torrão natal – a paisagem é a do planalto transmontano com as suas árvores, os seus bichos, as suas gentes. O seu contar é ainda e essencialmente uma evocação do paraíso perdido da infância, de um lugar de certa maneira idealizado e utópico (em Os Meus Amores, que é a sua obra principal, confessa formalmente que as suas narrativas são talvez saudades).
Esta visão, que exprime a resistência de uma mentalidade predominantemente rural e tradicional ao avanço da vida urbana, é, de resto, uma constante em vários outros contistas da mesma época. Combinando habilmente este lirismo saudosista com uma exacta descrição da realidade (que o leva, por exemplo, a recriar com especial cuidado a linguagem oral e popular, sobretudo nas cenas dialogadas), o realismo de T. C. adopta uma feição particular, misto de rusticidade e delicadeza.
Trindade Coelho pode ainda enfileirar na estirpe de Castilho e João de Deus pela preocupação com o analfabetismo, publicando e até distribuindo, gratuitamente, folhetos de iniciação às primeiras letras. Na mesma linha de preocupações pedagógicas escreveu três livros de leitura e uma série de fábulas e de crónicas moralizadoras para crianças – «[...] se um dia puder edificar uma escola, meto-me nela e ensino meninos», escreve ele, numa carta dirigida a Augusto Moreno, em 1902.
É ainda de salientar o fundo saber das coisas populares, reunido em O Senhor Sete, e a vastíssima correspondência, em grande parte ainda inédita, que nos dá preciosas informações não só sobre a sua vida particular como, sobretudo, das suas relações com importantes vultos da cultura da época.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aventuras do Janoca e do Janeca


Aventuras do Janoca e do Janeca / Maria Lúcia Namorado ; il. de Alice Jorge







AUTOR(ES): Namorado, Maria Lúcia, 1909-2000; Jorge, Alice, 1924-, il.
EDIÇÃO: 1a ed
PUBLICAÇÃO: Coimbra : Atlântida, 1971
COLECÇÃO: Os livros da grande roda, cata-vento ; 1



terça-feira, 6 de abril de 2010

Um fidalgo de pernas curtas

Um fidalgo de pernas curtas : novela infantil / Ilse Losa




AUTOR(ES): Losa, Ilse, 1913-2006; Resende, Júlio: il.
EDIÇÃO: 2a ed
PUBLICAÇÃO: Lisboa : Portugália, 1961
COLECÇÃO: Os pioneiros ; 4


Esta história começa assim:
Numa "ilha" do Porto surgiu certa manhã, cedo, um cãozito que, até ali, ninguém vira. O seu corpo assemelhava-se a um cilindro, o pêlo parecia veludo negro e as orelhas, castanhas e macias, eram duas grandes folhas outonais. Dava a impressão de se mover sem pernas, tão curtas elas eram.



Júlio Resende
Biografia

1917 Nasceu no Porto a 23 de Outubro
1930/1936 Pratica ilustrações e banda desenhada para jornais e publicações infantis.
Aprendizagem do desenho e da pintura na Academia Silva Porto.
1937 Frequenta a Escola de Belas-Artes do Porto e é discípulo de Dórdio Gomes.

1943 Participa na organização do "Grupo dos Independentes". Primeira exposição individual no Salão Silva Porto.

1944 Exerce docência no ensino secundário.
1945 Conclui o Curso na Escola de Belas-Artes com a pintura "Os Fantoches".
Visita o Museu do Prado. Tem em Madrid um encontro com Vasquez Diaz. Obtém os prémios da Academia Nacional e "Armando de Bastos".
1946 Bolsa de estudo no estrangeiro do "Instituto Para a Alta Cultura". Primeira exposição em Lisboa.
1947/1948 Estuda as técnicas de afresco e gravura na Escola de Belas-Artes de Paris. Discípulo de Duco de La Haix. Na Academia Grande Chaumière recebe lições de Othon Friesz. Copia os Mestres no Museu do Louvre. Visita os museus da Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália.
1949/1950 Professor na pequena escola de cerâmica em Viana do Alentejo. Contactos com o escritor Virgílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua. Em Lisboa conhece Almada Negreiros e E. Viana. Primeira viagem à Noruega onde é hospede de Oddvard Straume. Permanência em Orstavik.
1951 Em Portugal fixa-se no Porto mantendo actividade docente no ensino secundário. A gente do mar passa a constituir tema dominante da pintura. Prémio Especial na Bienal de S. Paulo.
1952 Prémio na 7ª Exposição Contemporânea dos Artistas do Norte. Permanece um mês na Noruega. Executa o fresco da Escola Gomes Teixeira, Porto. Investiga o desenho infantil.
1953 Cria as "Missões Internacionais de Arte", a primeira das quais ocorreu em Trás-os-Montes.
1954 Lecciona na Escola Secundária da Póvoa de Varzim.
1955 Promove a 2ª "Missão Internacional de Arte", na Póvoa de Varzim.
1956 Integra a equipa com o Arq. João Andersen para o projecto "Mar Novo" para Sagres que obtém o Primeiro Prémio em concurso internacional. Prémio "Artistas de Hoje", Lisboa. Conclui o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra.
1957 Organiza a exposição "4 Artistas Portugueses" em Oslo e Helsínquia. 2º prémio de Pintura da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
1958 Executa um painel para a "Exposição de Bruxelas". Prémio "Columbano" da Câmara Municipal de Almada. Promove a 3ª "Missão Internacional de Arte", Évora. Convidado para a docência na Escola de Belas-Artes do Porto. Executa vários painéis de azulejo para a estação de fronteira de Vilar Formoso.
1959 Menção Honrosa na 5ª Bienal de S. Paulo. Cria dois painéis cerâmicos para o Hospital de S. João, Porto. Executa oito painéis de azulejo para a pousada de Miranda do Douro.
1960 Prémio "Diogo de Macedo" no Salão de Arte Moderna do SNBA, Lisboa. Painel cerâmico para a Pousada de Bragança.
1962 Presta provas públicas para a Cadeira de Professores na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
Mural afresco no Palácio de Justiça do Porto.
1964 Executa cinco painéis cerâmicos para obras de arquitectura.
1965 Cria cenários e figurinos para o "Auto da Índia" de Gil Vicente, encenação de Carlos Avilez para o TEP, Porto.
1966 Realiza um afresco para o Tribunal de Justiça em Anadia.
1967 Cria cenários e figurinos para "Fedra" de Racine, encenação de Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais.
1968 Ilustra "Aparição" de Virgílio Ferreira. Realiza cenário e figurinos para o bailado "Judas", coreografia de Agueda Sena e Companhia da Fundação C. Gulbenkian, Lisboa.
1969 Prémio "Artes Gráficas" na Bienal de Artes de S. Paulo, com ilustrações do romance "Aparição". Cria cenários e figurinos para o "Auto da Alma" de Gil Vicente no TEP, Porto. Realiza seis painéis em grés para o Palácio de Justiça de Lisboa.
1970 Orienta o visual estético do Espectáculo de Portugal na "Exposição Mundial de Osaka". Cria cenários e figurinos para "Antígona" no Teatro Experimental de Cascais.
1971 Primeira viagem ao Brasil encontrando-se com Jorge Amado e Mário Cravo Filho.
1972 Nomeado Membro da Academia real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, Bruxelas, onde fez uma comunicação.
1973 Ilustra a obra de Fernando Namora "Retalhos da Vida de um Médico". Nova viagem ao Brasil. recebe o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada.
1974 Exerce funções de gestão na ESBAP. Realiza cenário para o filme "Cântico Final" de Manuel Guimarães, adaptação do romance de Virgílio Ferreira.
1975/1976 Dedica-se a tempo inteiro à gestão da ESBAP.
1977 Viagem ao Nordeste Brasileiro. Encontro com os artistas Sérgio Lemos e Francisco Brennand.
1978 Cria cenários e figurinos para o bailado "Canto de Amor e Morte" coreografia de Patrick Hurde, inspirado na obra musical de Lopes Graça para a Companhia Nacional de Bailado. Visita às Faculdades de Belas-Artes de Espanha.
1981 Executa os vitrais para a Igreja Nª Sª da Boavista, Porto. Viagem a Pernambuco e Baía. Profere uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
1982 Recebe as insígnias de Comendador de "Mérito Civil de Espanha" atribuídas pelo Rei de Espanha.
1984 Realiza o painel mural "Ribeira Negra".
1985 É-lhe atribuído o Prémio AICA.
1986 Executa em grés o grande mural "Ribeira Negra" no Porto.
1987 Profere a última lição na ESBAP.
1989 Exposição retrospectiva na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
1992 Viagem a S. Vicente e Stº Antão (Cabo Verde).
1993 É criado o "Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende".
1994/1995 Realiza painéis cerâmicos para a estação do Metropolitano de Lisboa, "Sete Rios".
1996 Viagem a Goa
1997 Viagem a Santiago e Fogo (Cabo-Verde). Recebe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Realiza a decoração de azulejos da estação do Metropolitano de Lisboa, "Sete Rios".
1999 Viagem à Ilha de Moçambique.
2000 Viagem a Recife, Brasil.

Fundação Júlio Resende. Em linha. [Consult. 7-04-2010]. Disponível em http://www.lugardodesenho.org/002.aspx?dqa=0:0:0:29:0:0:-1:0:0&ct=8

Emílio e os Detectives

Emílio e os detectives / Erich Kästner ; il. Walter Trier ; trad. Virgínia de Castro e Almeida


AUTOR(ES): Kästner, Erich, 1899-1974; Trier, Walter, 1890-?, il.; Almeida, Virgínia de Castro e, 1874-1945, trad.
EDIÇÃO: 7a ed
PUBLICAÇÃO: Lisboa : A. M. Teixeira, 1961
COLECÇÃO: Os melhores livros para crianças ; 1





 
   
Erich Kästner

Satírico alemão, poeta e romancista.

Kästner é mais conhecido pelos seus romances juvenis que não eram populares entre os nazis – a sua famosa história Emílio e os Detectives não obteve logo permissão para ser publicado (1929). Nos livros infantis reflectia o seu optimismo social baseado na crença no poder renovador da juventude.

Erich Kästner nasceu em Dresden e a sua família enfrentou dificuldades. Depois do pai ter perdido o seu trabalho a mãe teve de arranjar pequenos trabalhos ou trabalhar como cabeleireira para ajudar a sustentar a família.
Kästner frequentou uma escola de formação de professores antes de ser recrutado para um regimento de infantaria de um ano, durante a Primeira Guerra Mundial I. A experiência fez dele um adversário ao longo da vida do militarismo. Após o serviço militar, estudou literatura alemã na Universidade de Leipzig.
Na década de 1920, trabalhou num banco e foi jornalista.
Em 1925, Kästner formou-se, apresentando uma dissertação sobre Frederico II e a literatura alemã.
Em 1927 Kästner mudou-se para Berlim e tornou-se um escritor freelancer. As primeiras obras, uma colecção de poemas, surgiu na década de 1920. A partir de 1930, Kästner dedicou-se inteiramente à escrita. Em 1931 foi eleito para a composição do PEN clube alemão.
Kästner ganhou fama com a novela juvenil Emílio e os Detectives que, mais tarde, foi adaptada ao cinema várias vezes.
Nos seus livros escritos para jovens leitores, Kästner usava o humor para expor a loucura humana e as mazelas sociais. Emil Tischbein, o herói de Emílio e os Detectives foi apresentado também em Emílio e os três gémeos (1933).
Em 1957 Kästner foi agraciado com o Prémio Büchner para a literatura.

Kästner morreu a 29 de Julho de 1974, em Munique. O seu túmulo está situado em Bogenhausen. Após a morte de Kästner, a Academia de Artes da Baviera estabeleceu um prémio literário em sua homenagem.


Virgínia de Castro e Almeida
Escritora portuguesa (Lisboa, 1874 – Lisboa, 1945).



Viveu na Suíça e em França. Estreou-se nas letras com A Fada Tentadora (1895), dando início em Portugal à literatura infantil. Foi contista e romancista, tendo-se extraído de algumas das suas obras argumentos para filmes. Dedicou-se também à literatura de viagens e estudos de índole pedagógica e histórica.
Nova Enciclopédia Larousse, Círculo de Leitores