Outros tempos

"O maior defeito dos livros novos é impedir a leitura dos antigos." (Joseph Joubert)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

L'Art Populaire au Portugal


L'art populaire au Portugal
AUTORES: Chaves, Luís. il. Tom (1906-1990)
PUBLICAÇÃO: SECRETARIADO NACIONAL DE PROPAGANDA. Lisboa. 1940


Tom

"D. Thomaz de Mello nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1906. Morreu em 1990, em Lisboa.
Ficou conhecido como Tom, abreviatura que herdou do seu avô, de origem inglesa. Artista multifacetado, explora diferentes áreas que vão desde a pintura ao desenho, passando pela decoração, a caricatura, a tapeçaria, o design, o grafismo de cartazes, a cerâmica e a encadernação.
Chega a Portugal em 1926, pela mão da companhia de teatro brasileira de Leopoldo Fróis, na qual trabalhava como contra-regra e aderecista. O fascínio pelo teatro começou cedo, cerca dos 14 anos de idade, enquanto aprendiz e ajudante de cenografia no Teatro Lírico do Rio de Janeiro. Posteriormente, em conjunto com Mário Tullio e J. Barros, constrói carros carnavalescos.
O interesse pela imprensa aparece igualmente desde cedo, sendo que o seu avô D. Thomaz José Fletcher de Mello Homem, escritor de profissão, possuía em Lisboa a Agência Universal de Anúncios, uma das primeiras agências de publicidade. Vendeu jornais em 1915, e trabalhou como tipógrafo em 1916.
A viragem para as artes plásticas dá-se logo no ano seguinte à sua chegada a Lisboa, em 1927, quando o caricaturista Ruben Trinas, mais conhecido como Fox, o convida a realizar uma exposição.
Enquanto caricaturista trabalha na Voz, para a qual executa a série Tiroliro, e para o Diário da Manhã, realizando o Rico, Pico e Sarapico nos anos 20. Na década seguinte colabora com o Papagaio. A sua obra, nesta área, caracteriza-se pela falta de perspectiva, pela síntese das figuras, por um desenho algo “infantil”, mas seguramente por uma grande expressividade no traço, algo bizarro, segundo a crítica da época. Constituiu-se como um caso exemplar de uma individualidade dotada de grande eclectismo, apesar de ser integrado na chamada “segunda geração de modernistas”. Participa activamente, desde 1928, em salões do SPN/SNI e nas equipas de decoradores enviadas às grandes exposições no estrangeiro, chegando a obter o “Grande Prémio de Decoração e de Artesanato”, na Exposição de Artes e Técnicas de Paris, em 1937, e vindo a receber, em 1945, o “Prémio Francisco de Holanda”.
Tanto no desenho (outra área de destaque na sua obra), como na pintura (que era encarada como um hobby), Tom demonstra sensibilidade etnográfica, retratando vários costumes e tipos populares. René Barotte afirmará que Tom é “um pintor da miséria”, transpondo para as suas obras o sofrimento humano e o sentimentalismo típico português; e Artur Augusto afirma que de todos os pintores do seu tempo é aquele que melhor interpreta a alma dessa colectividade quase infantil à qual se chama “povo”.
Dentro da mesma procura, numa atitude quase arquivista e claramente de anotação, retrata algumas regiões de Portugal. Destaca-se a série Nazaré, na qual mais do que a paisagem, é a realidade humana que o atrai, transparecendo nos leitmotiven dos frisos das barcas e dos batéis, das mulheres de capote, dos pescadores de pé descalço à espera do peixe, ou ainda da lenda do milagre de D. Fuas Roupinho, um sentimento que leva António Lopes Ribeiro a intitular estas obras como verdadeiras “cartas de amor”. E, principalmente, a série Feitiço, surgida de uma viagem a Angola, onde identifica alguns elementos próximos do seu Brasil. Sofre o choque de um confronto com um imaginário que o levou a realizar um processo novo, em que a cor adquire uma importância extrema, levando-o, por vezes, a composições quase abstractas e muito expressivas, nas quais se afasta do rigor do desenho geométrico para se permitir uma maior liberdade de execução.
Fascinado pela topografia, desenvolve um apontamento de uma geografia sentida, representando nas suas obras cidades como Lisboa, Ruão, Nova Iorque e, muito particularmente, o Porto. Lima de Carvalho chega a afirmar que se Carlos Botelho era o pintor de Lisboa, Tom seria o seu equivalente em relação ao Porto. Pintando a esquina de uma rua, as envelhecidas varandas ou as traseiras dos prédios com as suas inconfundíveis sacadas, consegue, em todas elas, captar a essencialidade que as caracteriza, através de uma composição animada por um cromatismo emotivo, que muito deve às leis da geometria com as quais muitas vezes brinca."
Carla Mendes in, Centro de Arte Moderna - José de Azevedo Perdigão

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